quinta-feira, 2 de junho de 2016

O diabo não pode ser pop (RJ)

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Foto: Maria Soares


Hernane Cardoso

Comédia empoeirada

A comédia “O diabo não pode ser pop” perde muitas oportunidades de se comunicar de modo mais próximo com a realidade. Esse problema faz com que o texto e as interpretações fiquem cheios demais de responsabilidade para dar conta do efeito cômico, o que é uma aventura insólita. Escrito por Bruno Bloch e por Rodrigo Salomão e dirigido por Pedro Cadore, o espetáculo não resiste aos seus desafios infelizmente. Na história, a notícia de que os índices de popularidade do Diabo são altos choca o inferno e exige mudanças. Uma jornalista é contratada, mas a entrevista que ela faz com o Senhor das Trevas acaba tendo resultados diferentes do esperado. Hernane Cardoso, Daniel Belmonte, Antônio Valladares e Luana Manuel estão no elenco da produção cuja temporada no Teatro II do SESC Tijuca encerrou no último domingo, dia 29 de maio.

Dramaturgia comportada demais
Em termos estéticos, há quase nenhuma relação entre os ficcionais Diabo e inferno e o mundo além da peça, embora essas intenções estejam manifestas no release de divulgação do espetáculo. Se, ao escrever o texto, Bruno Bloch e Rodrigo Salomão pensaram nalguma referência com políticos ou com demais personagens reais de nossa sociedade, ela se perdeu completamente no processo de encenação. “O diabo não pode ser pop” é, antes de tudo um melodrama, com seus personagens muito superficiais: bons, maus; vítimas, algozes e heróis. A curva dramática é rigidamente estruturada, as ironias são pouco aproveitadas, quase não há profundidade.

No conflito principal, está um Diabo (Hernane Cardoso) que tenta reverter seu alto índice de popularidade, esforçando-se para parecer mau. Próximo a ele, uma espécie de Primeiro Ministro (Daniel Belmonte) e um Empregado particular (Antônio Valladares). Desde o início, fica-se sabendo que o primeiro é um vilão e o segundo um herói e que, embora aparentemente o quadro penda mais para um lado, depois há de cair para o outro. A entrada da personagem Jornalista (Luana Manuel) tem a promessa de um colorido na narrativa, mas o panorama permanece relativamente inalterado.

O vozeirão de Hernane Cardoso
As interpretações, dentro do pouco que a dramaturgia e a concepção permitem, têm bons resultados de um modo geral. Sobressai-se o vozeirão de Hernane Cardoso (Diabo), potencializando seu personagem. No mais, tudo está submerso em um quadro artístico pouco interessante e que talvez tivesse melhor avaliação dentro de critérios do teatro feito para crianças. O figurino de Anouk Zee Penino fica no panorama da fábula, a luz de Rodrigo Belay se esforça em melhorar as possibilidades do todo dirigido por Pedro Cadore sem muito convite nem à reflexão, nem ao humor.

A popularidade dos vilões das telenovelas desde Odorico Paraguaçu e a relação entre votos e bons (ou maus) resultados nas administrações públicas são questões que poderiam ter feito dessa uma comédia menos empoeirada. Uma pena.

*

Ficha técnica:
Texto: Bruno Bloch e Rodrigo Salomão
Direção: Pedro Cadore
Elenco: Hernane Cardoso, Daniel Belmonte, AntônioValladares e Luana Manuel
Figurino: Anouk Zee Penido
Luz: Rodrigo Belay
Cenário: Julia Marina
Visagismo: Ju Cordeiro
Fotos e Designer: Maria Soares
Produção: Carolina Tardin e Hernane Cardoso

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